segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Típico sujeito sem sorte


Autor: Diego P. G. Silva

Meu transporte era uma bicicleta. Não era uma bike muito equipada, não tinha marchas, nem aros cromados. Mas também não era uma daquelas Monark antiga e resistente. Era uma bicicleta simples e funcional, ótima para exercer sua função de transporte e instrumento de trabalho. Havia comprado-a há uns três anos, pouquíssimas quedas, alguns furos e trocas de pneus, freio funcionando e as rodas estavam até um pouco empenadas. Mas estava até muito boa. E tinha até um apelido: B.I. (bêi).
A Rua São Romão tem uma extensão de mais ou menos 300 metros e liga a Rua Dona Filomena de Matos à Avenida Bias Fortes. E descendo essa rua têm duas opções para dobrar a esquerda: Anne Frank e Aymorés. É uma rua com pouco movimento de automóveis. Têm muitas residências, uma mercearia, um bar e alguns lotes vagos. Geralmente, tem pessoas circulando ou sentadas na mesa do bar bebendo uma cervejinha; ou mesmo uma senhora varrendo a porta da sua casa, e crianças correndo e brincando. Típica rua de um bairro residencial da minha cidade.
Era uma descida normal, não muito íngreme. Eu estava mais que acostumado a descê-la. Era rotina. Eu tinha outras opções, mas me sentia bem indo para casa depois do trabalho por aquele caminho. Naquela época eu passava naquela rua quatro vezes: ir pra escola, voltar da escola, ir pro trabalho e voltar do trabalho. Nas quatro rotineiras vezes eu estava com minha fiel ‘bêi’
Mal sabia eu, que um acidente me esperava naquela tarde. Eu voltava do trabalho, era por volta de 17:30h, estava descendo a Rua Dona Filomena de Matos e como sempre, dobrei a segunda esquerda, entrando assim na Rua São Romão.
Uma coisa me chamou a atenção, assim que entrei na rua em questão. Havia um grupo de crianças e adolescentes espalhados mais a frente. Percebi logo que estavam jogando uma ‘pelada’. Às vezes me deparava em situações semelhantes, então dava uma pequena puxada no freio para diminuir a velocidade. Eles estavam a uma distância de 200 metros. Não me preocupei. Cheguei a notar que havia alguns adultos – mulheres – sentados ali perto.
Os ‘peladeiros’ estavam numa parte menos íngreme da rua, para facilitar o jogo de futebol.
Quando me deparo com uma situação dessas, principalmente conhecendo a adolescência atual, eu chego a pensar que esses caras – os ‘peladeiros – não estão nem aí pra quem está passando. E eu como sou um típico sujeito sem sorte, é muito fácil me acertarem com a bola e me derrubarem da bicicleta.
Mas não foi isso que aconteceu naquele dia.
Eles chegaram a diminuir o ritmo do jogo quando notou a presença de uma bicicleta, a bola chegou a ir para uma das calçadas, mas para o meu azar algumas pessoas continuaram na rua esperando a retomada do jogo. Certamente que nem notaram o real motivo do jogo ter parado.
Mas abriram espaço suficiente para que eu passasse livremente com minha ‘bêi’. Com caminho aberto para que eu passasse só teria que soltar os freios e seguir livremente. Eu não pressionei mais os freios, mas por motivos de segurança meus dedos continuaram a postos para qualquer imprevisto. Porém não houve segurança suficiente.
Sabe aquelas situações que acontecem em câmera lenta, como se o tempo tivesse parando e você notasse todos os detalhes do ocorrido. Pois é, isso não aconteceu comigo. Em um momento eu estava na bicicleta, um piscar de olhos depois eu estava no chão.
Um dos garotos, que devia ter uns dezesseis anos e estava de costas para a bicicleta, exatamente no último segundo resolveu sair da sua posição e fechar o caminho para que eu passasse. Não deu outra. Eu acertei em cheio o cara com o pneu dianteiro. Até tentei apertar os freios, mas um segundo apenas não foi suficiente pra parar.
Eu me lembro de ter sentido a bicicleta bater nas minhas costas, depois que me arrebentei no chão.
Eu dei um gemido de dor e me levantei rapidamente, tremendo. Nem me lembrei de olhar pra cara do sujeito que involuntariamente causou o estrago e nem mesmo de tomar conhecimento se ele também havia se ‘estragado’.
“Você se machucou?” – ouvi alguém perguntar. Eu estava relado, mas não sentia nenhuma dor, apenas uma ardência nas mãos.
Enquanto levantava a bicicleta e tentava recolocar o freio do pneu da frente no lugar eu sentia o olhar de todos queimando nas minhas costas. Eu nunca gostei de ser o centro das atenções.
Minhas mãos tremiam. Não sabia o motivo. Talvez o susto, talvez a raiva ou mesmo as duas coisas.
“Você tem que olhar por onde anda” – disse educadamente pro cara que tava um tanto assustado. Na verdade eu queria xingar ele, a mãe dele e as próximas três gerações dele, mas me contive.
“Você está bem? Não está sentindo dor?” – ouvi uma mulher que estava sentada ali perto perguntar. Não cheguei a olhar pra ela.
“Não. Eu estou bem” – por enquanto eu estava bem, não sentia nada.
As palavras que ouvi em seguida me fizeram fervilhar de raiva. Mas eu estava muito sem ação, apenas lutava incessantemente contra os freios, que não queriam assumir seu lugar novamente.
“Agora não está doendo. Mas você vai ver mais tarde quando o sangue esfriar” – Eu não queria apenas xingar a pessoa que disse isso, eu queria chutar ela até ela não ter mais o que pensar para se desculpar. Porque foi exatamente o que aconteceu. Meu joelho doeu incessantemente depois do banho. E os esfolados no braço ardiam pra cacete.
Todavia eu me calei, montei na bicicleta que agora já tinha os freios do pneu dianteiro no devido lugar e tomei meu rumo. A partir daí eu notei alguns prejuízos que minha ‘bêi’ havia sofrido: a roda da frente estava mais empenada que o normal e a manete do freio de trás havia quebrado.
Percebi então que deveria não só redobrar minha atenção em decidas como a da Rua São Romão, mas triplicar o cuidado com ‘peladeiros’ prontos para me derrubar a qualquer custo da minha bicicleta.

6 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    só até a 3 geração é pouco tem q amaldiçoar até pelo menos a 13ª!!!!!!!!

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  2. hauahuahauhauah eu raxo de rir desse =))

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  3. Detalhe que esse é um fato reeal ! HAHAHA '
    Lendo a gente fica até com dó . hahaha

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  4. Heitor, vc eh mau hein?! auhauhuahuah

    Dalila, eu entendo! ;)

    Luh, isso vai rindo das desgraças alheias... kkk

    Nathalia, que bom q vc entende! ;D

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