segunda-feira, 7 de março de 2011

A Carta


  Autor: Fabricio Lima Briola 


Já faz algum tempo que eu não te escrevo... Ficaram velhas todas as notícias e por sinal há muito tempo não ocorrem fatos que me alegrem ou que me façam sorrir que ainda sejam dignos de dividir com você. As flores que antes eram coloridas e me satisfaziam com seu doce aroma hoje já não possuem cor e seu cheiro já não me encanta... Minha vida não é mais do jeito que você a deixou e talvez não mais seja...  Do amor que um dia dividimos restam apenas lembranças o que talvez sejam os únicos motivos de me manter viva e quando vir à tona o esquecimento, conseqüentemente eu não mais exista... Não queria que tudo ocorresse assim, pois tínhamos um filho a cuidar, sorrisos a cultivar e amores a dividir! Porque você fez isso? Porque escolheu a penumbra? Minha vida agora está despedaçada em meio a tantas perguntas e inexoráveis pontos de interrogação, mas irei buscar! Irei buscar respostas ás suas interrogações e tudo ficará em seu devido lugar...
Nosso filho hoje está com cinco anos e sei que um dia também irá buscar respostas e você deve me prometer que não vai engana-lo com novas mentiras para que entremos em um acordo e que a vida fique eternamente em seu lugar...
Gabriel sente muita saudade de você em meio a sua ausência, pois quando você partiu nosso filho era apenas um bebê. Ele se parece muito com você; Podemos identificar vários traços teus em apenas um dos sorrisos enigmáticos de Gabriel que se define através da partitura dos olhos delineando seu contorno angelical que se estende ao canto dos pequeninos lábios que por sinal também eram os seus... Gabriel é uma criança muito feliz e uma pessoinha encantadora... (Como já disse anteriormente “Igual ao pai”) [...]
“Ó céus, me pego chorando outra vez” - Sussurrou a delicada moça de cabelos negros e ondulados portadora de uma pele branca como algodão, enquanto dobrava a carta escrita com letras miúdas e tremida endereçada a alguém intitulado como “Querido Augusto” com um ponto e vírgula separando os dizeres “amor eterno” Logo á frente sobre a antiga mesa se destacava uma fotografia com a imagem exata de um casal segurando algo embrulhado em um lençol cor salmão que mais parecia ser uma criança recém nascida. Os sorrisos de ambos eram contagiantes.
Lá fora a fina chuva ainda embaçava o vidro da janela, a moça levanta-se cautelosamente da cadeira ao mesmo instante em que apalpa um pequeno lenço em seu bolso, secando as lágrimas que escorriam sobre a face levemente delineada e decorada com seus deprimidos olhos azuis.
Ela da alguns passos em direção ao filho que adormecia em meio a um emaranhado de lençóis e o beija demoradamente em sua face esquerda deixando cair uma ultima lágrima sobre o miúdo rosto da criança.
A mulher veste-se um casaco e caminha em direção ao portão... Após alguns minutos, a mesma adentra ao que aparenta ser um antigo cemitério, profere o sinal da cruz e anda parcialmente sobre as infindáveis e estreitas ruas daquele ambiente ermo e gélido, chegando a um túmulo recoberto com uma pedra de mármore com a seguinte escrita: “Aqui jaz A.L.S.” A mesma retira a carta de sua jaqueta, um tanto amassada e respingada de lágrimas e a deposita sobre a lápide. Silenciosamente passa algum tempo observando o túmulo e logo em seguida é assistida por um alguém enquanto erguia um punhal e o cravava silenciosamente em seu peito... Certamente esse alguém era o destino, pois não fizera nada para impedir a morte de Victória!

Fabricio Lima Briola é Aprendiz de Mecânica de Usinagem, tem 16 anos e mora em Capivari – SP.

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