quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Passei tanto tempo apenas pensando...


Autor: André de Lima

Passei tanto tempo apenas pensando. Pensei tanto que minha vida passou e eu nem por notar. Passaram-se primaveras, verões, outonos e invernos. Apenas esqueci de viver minha vida. Tão preocupado com as dificuldades do mundo, o fazer o certo, não vivi. Algumas vezes olhava para o céu, pouquíssimas vezes, mas tudo parecia igual. As mesmas estrelas sempre com os mesmos brilhos. As nuvens enfeitavam o céu e lembravam algodão-doce. Tudo azul. Nada disso me importava, apenas os problemas do mundo.
Formulei soluções das mais diversas maneiras. Todas impecáveis e impossíveis. Desarmar o exército. Unificar as nações. Deixar morrer de fome a fome. Convenci multidões à minha filosofia. Criei um mundo ordenado e ordinário. Não existia fome, mas existia a carência de carinho. Não existia a violência, mas persistia a falta de amor. Não sobrava espaços para a idiotice, mas o aprendizado também perdera-se no espaço. Era o meu mundo. Um mundo robô.
Quando me voltava a consciência, já choramingava a tristeza de viver em um mundo que não era meu. O gosto é amargo. A fumaça, fuligem, buzinas. Que mundo! Tudo podre e barulhento. Quero meu mundo, mesmo que tenha privações.
Quero um lugar onde possa encontrar com meus amigos. Uma praça com muitas árvores. Uma praia com o mar limpo. Ver o pôr-do-sol. O nascer da Lua. Os peixes nadando por entre os pés das crianças que sorriem felizes por estarem felizes. Cantar ao som de um violão. Ter o corpo coberto pela areia da praia e o cabelo com o cheiro do mar. Assobiar em coro. Olhar olhos conhecidos. Sorrir.
Quero uma casa pra viver com minha família. Não um apartamento, nem uma mansão, muito menos um castelo. Uma casa, basta a minha família. Sentar no sofá sem uma TV por perto. Brincar com os cachorros no quintal. Cozinhar, comer e conversar sentados juntos à mesa. Abraçar um ao outro e falar com carinho o quão orgulho tenho em pertencer a minha família.
A chuva começa a escorrer pela janela, vagarosamente, não passa de chuviscos, mas ainda sim são chuviscos. Mais uma vez perdi uma fração da minha vida. Se pensamento levasse ao melhoramento, tenho certeza que estaria no paraíso, mas como não, ainda estou neste mundo podre e barulhento.

André de Lima trabalha como Webdesigner e é escritor. É autor do Livro “Territórios: O Cinturão de Fogo” e gerencia os blogs Filosofia Tediísta e Territórios.  
 

7 comentários:

  1. Parabéns André...
    Ps.: Ainda quero o autografo.

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  2. Legal!A gente quer mudar tantas coisas,mas temos medo de lutar por aquilo que queremos realmente.

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  3. e aeew Diego!!
    XD

    Mal nao ter entrado ontem pra conferir...estava morto..
    tenho boas news...a editora arielli se interessou no meu livro =P

    aeeeew

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  4. legal né XD
    vamos esperar e ver se dá tudo certo =D

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  5. ''Quando me voltava a consciência, já choramingava a tristeza de viver em um mundo que não era meu. O gosto é amargo. A fumaça, fuligem, buzinas. Que mundo! Tudo podre e barulhento. Quero meu mundo, mesmo que tenha privações.'' Que paragrafo brilhante.
    Muito bom o texto André, parabéns.

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